terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Crescimento da Igreja Mundial do Poder de Deus expõe a disputa por fiéis no neopentecostalismo

 
O avanço da Igreja Mundial do Poder de Deus, liderada por Valdemiro Santiago, chama a atenção de especialistas que já enxergam uma inevitável concorrência. Autor de uma tese sobre a igreja diz que o aparecimento da denominação trouxe à tona um fenômeno entre os evangélicos sobre a máxima de que “nada se cria, tudo se copia”.
São seis horas da manhã de um domingo e algo anormal acontece na região central da cidade de São Paulo, geralmente deserta no primeiro dia da semana. Veículos e pedestres disputam lugar na Rua Carneiro Leão, que abriga a sede da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), a mais nova denominação neopentecostal de grande porte a surgir no cenário brasileiro.
Dentro do enorme salão, antes utilizado por uma fábrica e agora chamado Templo dos Milagres, cerca de 15 mil pessoas parecem hipnotizadas pelo discurso do homem de meia-idade, negro e alto que está sobre o palco. O cenário lembra uma mistura de romaria católica, com fiéis segurando esperançosamente fotos de parentes, carteiras profissionais e garrafas de água – objetos que mais tarde serão ungidos –, e arena de boxe, com refletores e câmeras de tevê iluminando o tablado central. Não se pode perder uma cena sequer – afinal, todo o material gravado vai ao ar nos diversos horários que a igreja ocupa na tevê.
O foco das atenções é Valdemiro Santiago de Oliveira, 45 anos, o apóstolo da denominação. Com inconfundível sotaque mineiro – é natural da pequena cidade de Palmas, interior de Minas Gerais –, o pregador movimenta-se de um lado para o outro, com bom domínio de cena.
Entre suas pregações feijão-com-arroz, ele se define, rindo, como “roceiro” e “comedor de angu”. Abraça as pessoas, chora com elas e derrama grossas gotas de suor, prontamente enxutas com uma toalhinha que depois é disputada pelos fiéis. Microfone em punho, Valdemiro entrevista pessoas da platéia. Testemunhos de cura de câncer, Aids, surdez, miopia se misturam a relatos de famílias restauradas, filhos que largaram as drogas e empregos que caíram do céu, tudo contado sob forte emoção.
Tanta efervescência tem feito com que a Igreja Mundial cresça e apareça. Nascida há pouco mais de dez anos, em Sorocaba (SP), a denominação já alardeia possuir 500 templos em quase todo o país, além de representações em Portugal, Espanha, Japão e Moçambique, bem como nos vizinhos Uruguai, Argentina e Colômbia. Não se tem estatística confiável sobre o número de membros, mas os templos surgem aos borbotões pelos centros urbanos, repetindo o que aconteceu, em tempos idos, com duas outras gigantes neopentecostais: a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), surgida em 1977, e a Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada em 1980 como dissidência da primeira.
O avanço da IMPD chama a atenção de especialistas, que já enxergam uma inevitável concorrência. “O crescimento da Igreja Mundial põe em evidência uma feroz disputa por fiéis”, opina o professor Ricardo Bitun, doutor em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Autor da tese Igreja Mundial do Poder de Deus: Rupturas e continuidades no campo religioso neopentecostal, o especialista diz que o aparecimento da denominação trouxe à tona um controvertido fenômeno entre os evangélicos que materializa aquela máxima de que “nada se cria, tudo se copia”: “Encontrei muitos pastores, não só entre os da Mundial, que imitam os trejeitos de Valdemiro. Falam com o mesmo sotaque mineiro, andam pelo púlpito, apertam os fiéis entre os braços”, observa.
Além da clonagem de estilo, que se assemelha ao processo que ocorre na Universal – onde os pastores imitam a voz e até os gestos manuais do líder supremo, bispo Edir Macedo –, Valdemiro Santiago tem muito mais a ver com a Iurd. Foi lá que ele se converteu e foi lançado no ministério religioso, pelas mãos do próprio Macedo. Durante 18 anos, militou na Universal, primeiro como pastor, e depois bispo. Foi missionário e ajudou a expandir as fronteiras da denominação na África.
 FONTE : O VERBO

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