Gari pai de santo recolhe trabalhos de macumba em floresta do Rio de Janeiro
Alexandre Borges, 29 anos, trabalha há dois anos
como gari na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) do Rio de
Janeiro, mas recentemente passou a ser o responsável por tirar os
despachos deixados na floresta do Alto da Boa Vista.
Tudo começou quando os supervisores ficaram sabendo que Alexandre é
pai de santo. “Contaram ao meu chefe que eu sou pai de santo e ele
perguntou se eu gostaria de fazer esse serviço. Alguns garis,
principalmente os evangélicos, têm medo de pôr a mão em pratos e
alguidares” conta o babalorixá.
Como ele tem conhecimento sobre as práticas das religiões
afrodescendentes, Alexandre faz seus próprios rituais para poder limpar a
sujeira deixada pelos trabalhos. “Para retirar as oferendas eu me
abaixo e peço licença em voz alta. Quando vejo a comida de um orixá,
peço ‘agô’ (perdão), coloco a tigela no saco de lixo e o deixo num canto
para o caminhão levar. O difícil é limpar padê (farofa de dendê), que
voa no gramado”, diz.
O morador de Nova Iguaçu conhecido como ‘Pai Alexandre de Oxóssi’
respeita os trabalhos que foram recém-depositados na floresta e não
desfaz as oferendas, mesmo quando percebe que a intenção do despacho é
para fazer o mal. “Vejo fotos, nomes e até bonecos espetados com
agulhas. Só não desfaço o trabalho de ninguém. Quem faz o mal vai arcar
com as consequências”.
O Alto da Boa Vista é um local muito usado pelos adeptos dessas
religiões e ter alguém com conhecimento desses rituais foi importante
para a Comlurb e por isso Alexandre ganhou o posto oficial. “Encontrar
quem sabe os fundamentos religiosos foi importante, pois ele sabe fazer a
remoção e tem a maior facilidade em abordar os adeptos e pedir para não
deixarem materiais espalhados, por exemplo”, diz o gerente da
Companhia, Carlos Roberto da Silva.
Com informações Extra
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