domingo, 4 de setembro de 2011

Deus nos livre de um Brasil evangélico


Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.
Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.
Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar “crente”, com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.
Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?
Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.
Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.
Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.
O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.
Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.
Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.
Soli Deo Gloria
7-02-11
Ricardo Gondin, é pastor da Igreja Betesda de São Paulo e presidente da Convenção Nacional da denominação.
Fonte: Site Ricardo Gondin
comentarios :

  1. meu amigo pastor vc esta equivocado com suas posiçoes afirmando que somos contra a cultura secular contra aquele ou esse autor de obras literarias a questao nao e impor a nossa cultura gospel o homen foi feito livre para pensar para discodar foi assim que DEUS fez o homen com livre arbitrio durante toda a historia do cristianismo protestante nao impormos nada agora sim a igreja catolica os mulçumanos conquistaram terra povos atraves de guerras da opressao etc nos ao contrario fomos pesseguidos humilhdos por outras religioes filosofias ect que dera que o brqsil fosse 100 centro evangelico seriamos como os estados unidos porque onde o evangelho de cristo entra muda consepçoes sera que criador da teoria da evoluçao charles d. estivesse vivo ele ia defender sua tese ainda? que beneficio trouxe sua tese para a humanidade agora sim o evangelho de cristo trouxe progresso paz para os paises protestante e o caso de estados unidos coreia do sul holanda suecia e suiça.
  2. Um Brasil evangélico seria olhar as cadeias vazias,seria ver a nossa nação livre dos corruptos que sugam nossas riquezas,ver a sociedade solidaria,e muito mais que ver o amor de Deus sendo divulgado em todos os lares, casamentos sendo restaurados filhos obedientes aos pais, gerando a tão sonhada longevidade. Um brasil evangelico e ter a shalom de Deus envouvendo e mudado o curso da história de um povo.Que Deus abençoe esse pastor que ainda não percebeu o poder do evangelho do senhor JESUS CRISTO.SHALOM..
  3. É lamentável que alguém que se denomina “pastor” se expresse sobre aqueles que deveria considerar como “irmãos em Cristo” com tamanha amargura. Penso que para emitir certas opiniões é preciso que estejamos curados em nossas emoções e sentimentos, sob o risco de não termos a isenção e o equilíbrio que deve pautar impressões pessoais que são tornadas públicas. Para mim, o texto é sectário e em nada contribui no sentido de apontar o que seria realmente um Brasil melhor. Pelo contrário, suscita a dissenssão e a intolerância, o que felizmente não temos e não vamos ter, em Nome de Jesus. Na verdade para que o autor do texto pudesse saber realmente como seria um “Brasil evangélico” ele mesmo deveria receber a Jesus primeiro, e saber como seria ele mesmo, se do seu interior fluíssem as “águas vivas” que o Mestre ministrou sobre a mulher samaritana de João 4, para a qual, segundo consta, nem sequer deveria ter dirigido a palavra. A Bíblia nos afirma que bendita, bem-aventurada é a Nação cujo Deus é o Senhor. Ser do Senhor Jesus não significa, necessariamente, ser evangélico. Ser do Senhor Jesus é, antes de mais nada, conhecer o amor de Deus em sua plenitude, “porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu único Filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Esse é o amor de Deus. Não tenho dúvidas que no dia que o Brasil for do Senhor Jesus é porque conheceu o amor de Deus e aí sim, seremos uma nação bendita, bem-aventurada, com menos violência, menos drogas, menos prostituição, menos divórcios, menos mentiras, menos tristeza, menos engano e, principalmente,ao contrário desse “desesperançado” irmão, uma nação cheia de entusiasmo e fé de que o futuro com Deus será sempre melhor.
  4. Caro Pr. Ricardo Gondim, venho através deste, lhe esclarecer alguns fatos referente à passagem bíblica mencionada pelo senhor no texto “Deus nos livre de um Brasil evangélico”.
    Caso o senhor não tenha percebido, a passagem de Lucas 7.1-10, registra a fé de um centurião romano em CRISTO JESUS. E não a fé em qualquer ídolo ou coisa parecida.
    Até porque, (não sei se o senhor já teve a oportunidade de meditar nessa passagem)o texto é bem claro nos versículos de 3-5 que o citado centurião colaborava com os ensinos nas sinagogas, uma vez que ajudava na contrução das mesmas. Portanto, era favorável ao ensino anti-idolatria.
    Outro fato bíblico que não pode ser esquecido, caso o senhor não tenha conhecimento, o centurião “habitava” no meio do povo, em Cafarnaum, apesar de ser romanano. Isso é um detalhe importante quando pode-se discutir a influência idólatra romana no caráter do mesmo.
    Não posso terminar sem esclarecer (caso o senhor nunca tenha notado) que a admiração de Jesus com relação a fé do centurião é que firma por completo o fato de que a fé do romano era no próprio CRISTO.
    O porque da admiração de JESUS e a comparação com a fé dos judeus é clara: “Os judeus desde que nasceram ouviram a PALAVRA e foram instruídos com relação a vinda do CRISTO. Mesmo assim tinham dificuldades em crer que JESUS era o CRISTO esperado e tinham dificuldades de crer no seu poder e em sua autoridade. Já o centurião romano, pode até ter nascido em meio a idolatra, mas havia compreendido e aceitado JESUS como o CRISTO, crendo no seu poder muito mais que os próprios judeus”.
    Já sobre o restante de seu texto “Deus nos livre de um Brasil evangélico”, o que fica é a impressão de um desafeto denominacional que se desabrochou nesse texto cheio de amarguras…
    Obrigado pela atenção.
  5. Larissa disse:
    Acho que um Brasil evangélico não prejudicaria ninguém, transformaria a vida das pessoas pra melhor, fazendo-as se livrar de idolatria e vícios vazios. E o principal: alegraria o coração de Deus.
  6. celio disse:
    Deus nos livre de uma pessoa como essa ser um pastor… Agora entendo porque que a sua igreja está em crise O próprio pastor está em crise.

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