Teólogo afirma que o Deus bíblico se revela nas religiões africanas
Quando um missionário pediu que africanos em
Zanzibar lhe contassem algo sobre o seu Deus, eles simplesmente
disseram: “Deus troveja!” O religioso que havia percorrido os mares no
século 19 para falar sobre o Deus bíblico aos “pagãos sem religião” ou
“pessoas de uma religião primitiva” ficou surpreso ao ver que isso
ecoava um ensinamento bíblico.
Essa e outras histórias sobre como os missionários conseguiram
espalhar o cristianismo pelo continente africano durante um momento
histórico em que as religiões tribais eram ignoradas ou denegridas. Em
seu novo livro “Conceitos de Deus na África”, o teólogo queniano John
Samuel Mbiti afirma que o cristianismo realmente tem ajudado por alguns
aspectos da religião tradicional.
O acadêmico afirma que os povos africanos são capazes de imaginar e
relacionar Deus com todos os aspectos de suas vidas. “A cultura africana
é construída e transmitida em grande parte pela tradição (e simbolismo)
oral. Meu livro… mostra em pequenas porções o que é a tradição”, disse
Mbiti, acrescentando que a religião africana tem muitas características
comuns com as tradições cristã e judaica. Isso contribuiu para a rápida
expansão do cristianismo no continente. Um dos fatores importantes para
isso foi que as traduções da Bíblia usavam palavras africanas para
definir Deus.
As primeiras Bíblias a chegarem até a África eram em inglês ou
francês. Os estudiosos e teólogos as traduziam em dialetos locais da
África, usando as palavras locais para Deus. Um exemplo claro é que,
entre a tribo iorubá da Nigéria, a palavra para Deus é Olodumare, ou o
“Todo-Poderoso”. Em uma tradução da Bíblia, será usado Olódùmarè.
“Isso inevitavelmente promove o encontro entre as duas tradições
religiosas, onde a religião africana diz ‘sim’ à tradição bíblica e a
tradição bíblica faz o mesmo com os elementos semelhantes da religião
africana”, diz Mbiti no prefácio do livro.
Esta, na verdade, é uma segunda revisada edição do livro, que já
havia sido lançado na década de 1970 pela missão literária anglicana
SPCK.
A nova versão abrange o estudo de 550 línguas e povos africanos, em
comparação com os 300 na primeira edição. Estão registrados 1.600 nomes
de Deus, incluindo os usados na mais jovem nação do mundo, o Sudão do
Sul.
De acordo com Jesse Mugambi, professor de Filosofia e Estudos
Religiosos da Universidade de Nairobi o livro confirma que a herança
cultural e religiosa africana baseia-se em Deus dentro de um conceito
que não foi pensado nas religiões tradicionais.
“Este livro exige uma completa reavaliação do patrimônio cultural e
religioso africano, dando-lhe a valorização que merece”, disse ele que
escreveu o prefácio do livro. “Esses encontros entre o cristianismo e as
religiões tradicionais africanas são valiosos. É um processo
complicado, mas Mbiti explica no livro que ambas as tradições de fé
estabelecemos uma relação profunda em torno de seu elemento fundamental:
Deus”, finaliza.
Traduzido e adaptado de Anglican Journal
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