O Papa Bento XVI “provavelmente” perdoará seu ex-mordomo Paolo Gabriele, condenado neste sábado (6) a um ano e seis meses de prisão pelo furto de documentos confidenciais da Igreja Católica, segundo um porta-voz do Vaticano.
O padre Federico Lombardi disse após o julgamento que a corte definiu o veredicto com “total independência” em relação aos oficiais do Vaticano.
“O Papa pode conceder seu perdão, mesmo que não seja solicitado formalmente”, afirmou o padre Lombardi, explicando que o Papa “recebe informações sobre o processo, o que o permite analisar sua posição”.
O porta-voz, que classificou a pena de “leve” e justa”, disse que Paolo Gabriele ainda é mantido em prisão domiciliar, como antes do julgamento.
Sua advogada Cristiana Arru “tem três dias para apresentar uma apelação e, em seguida, terá mais alguns dias para indicar as motivações dessa apelação”, afirmou.
Perguntado se Gabriele iria para a prisão ou seria beneficiado por uma liberdade condicional, o porta-voz indicou que sua situação futura depende, antes de tudo, de uma eventual apelação da defesa e de um perdão do Papa.
O porta-voz ressaltou que o procurador, durante o processo, havia indicado claramente “que não havia prova alguma de cumplicidade operacional ou moral” de outras pessoas com Gabriele. Essa questão, disse Lombardi, é importante “para que não se continue (na imprensa) a atribuir as responsabilidades” a outros.
Julgamento

O ex-mordomo Paolo Gabriele, à direita, durante o primeiro dia do julgamento
A Promotoria havia pedido três anos de prisão como pena para Gabriele. O tempo foi reduzida devido a circunstâncias atenuantes, segundo a Corte, que anunciou a sentença após duas horas de deliberações. Gabriele também foi condenado a pagar as despesas legais do julgamento.
Em sua apelação final, o ex-mordomo disse à Corte que agiu exclusivamente motivado por um amor “visceral” pela Igreja Católica e pelo papa. Gabriele também afirmou não ser um ladrão. Ele falou minutos antes de a Corte se retirar para determinar o veredicto.
Sua defesa havia pedido que a Corte reduzisse as acusações contra Gabriele de roubo agravado para apropriação indevida, e que ele não seja preso.
Durante o julgamento, um policial ouvido como testemunha afirmou que foram encontrados “quase 1.000 “documentos de interesse” na residência do acusado.
“Há quase 1.000 documentos de interesse, incluindo fotocópias e originais e alguns documentos com a assinatura do Santo Padre”, afirmou Silvano Carli, um dos quatro policiais que seriam interrogados nesta quarta-feira (3), ao falar sobre as descobertas da força de segurança no momento da detenção de Gabriele, em maio.
As testemunhas afirmaram que havia “centenas de milhares de documentos” na casa do mordomo, indicando que os referentes ao Papa estavam “habilmente dissimulados” entre os papéis espalhados.
“Há dezenas e dezenas de documentos sobre o Santo Padre, a Secretaria de Estado e outras congregações, a vida estritamente privada e familiar do Santo Padre”, disse Carli.
Outra testemunha, Stefano De Santis, declarou que, entre os documentos considerados sem interesse para a investigação, havia elementos relacionados à morte de Roberto Calvi, conhecido como o “banqueiro de Deus”, que foi encontrado enforcado em 1982 sob uma ponte de Londres.
Paolo Gabriele afirmou na terça-feira (2) que Bento XVI foi “manipulado” e declarou ser inocente da acusação de roubo dos documentos, mas disse que sente culpa por ter traído o pontífice. Na terça, o Vaticano anunciou que investigaria as condições de detenção de Gabriele, que afirmou ter sido submetido a “pressões psicológicas” após a prisão, em 23 de maio.
Segundo o ex-mordomo do Papa, ele foi detido durante 15 dias em uma cela na qual não podia sequer esticar o braço, iluminada as 24 horas do dia.
Durante a instrução do caso, Gabriele afirmou que queria combater “o mal e a corrupção” no Vaticano.
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Fonte: G1